23.2.06

Ana I


Ana ainda não havia se decidido
sobre a cor dos cabides
teria muito o que aprender até lá
Ana achava
e a Ana sucedia a exclamação
em tom comemorativo
era sempre o que a sucedia
e Ana era sempre
mas como teria de escrever
Ana escrevia
assinava com um sobrenome que se lia Ana ou Ana
pois seu nome mesmo não sabia
um nome que Ana teria de adivinhar segundo a vaidade
e mesmo assim não a levaria ao momento certo
de chutar uma exclamação escolhida na hora

Ana e a exclamação subjetiva
quando encontrava uma verdade julgada promissora
tornava a si mesma a afirmação próspera
pois assim era muito mais fácil
Ana achava
que não era por ser mais fácil
mas porque tentar era estático
e o que quer que descobrisse serviria
então Ana se limitava a desvendar pouco
apesar de não ser isso o que queria
era onde se alcançaria

Mas Ana que de tudo tinha um pouco
e tudo se lhe fosse dado
Ana tinha de curiosa os olhos pretos
como se nada bastasse pois estariam pretos
e preto apesar de Ana não ter preconceito
era por conceito vazio e ausencial
como se por mais que existisse
a palavra que o nomeava estava escrita errada
e o pós conceito era que nada significasse
Ana achava
um novo significado para o quê sabia
e ao sabê-lo Ana não seria
senão a bela aurora daquele novo dia

Ana ainda não havia se decidido
Ana mudara
e o que a sucedera
é Ana curiosa quanto a outra Ana
Ana talvez soubesse: a exclamação
Ana achava
mas não era por isso que estava lá
mas por saber que lá não estaria
se mais protelasse
era a mentira sabotada em verdade
pela razão que Ana teimava ter

Ana achava que um dia teria de morrer
mas morrer de quê?
quê são razões quando se justifica esperança?
Ana pingava do suor bruto
Ana suava o mundo que não era
para tornar o mundo que era autêntico
Ana achava
que se a vida fosse descortinada em ritmo
teria a benção de um hino
e realmente teria - se soubesse
Ana não sabia
Ana achava
e graças a deus - quando era ele (deus)
Ana não nada
nem crau
nem peito
nem costas
pois Ana sem jeito
era Ana mesma
como rimas opostas não são rimas
a não ser que Ana tivesse sorte
e Ana teria
Ana achava
Ana não chorava

Ana confundia o fato do mundo nunca acabar
como dever de acontecer
e a inevitabilidade da decisão
com o arriscado destino
Ana ia assim
construindo a própria salvação
era a sorte que tinha
não saber que a sorte
estava em seus olhos
nos olhos pretos de Ana,

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