13.3.06

Ana II


Ana pintara o cabelo sem saber qual a cor da tinta
e dera ao mundo novas delimitações
Ana se expandia ao cumprir sua própria vontade
não se sabe quem ensinara Ana
mas achava aquilo
que sê-la seria tirar nela aquilo que pertencia ao mundo
seria moda e seria autenticidade
Ana não sabia que era tudo a mesma coisa
eram escolhas que não tinham a ver com valer a pena
tinham que ver o novo - a rebeldade

Ana se desfazia do mundo aos poucos
e era tão charmosa que parecia reconstruí-lo
Ana nunca ligara realmente para a validade das coisas que se inventava
pra Ana tudo parecia ser um pouco quase muito
a fumaça do seu cigarro era a vida bonita
a parte da vida que é admirável
e só serve pra isso
Ana achava que se houvesse um só caminho
poderia esbarrar em tudo
e seria talvez viver de verdade

Ana andava na vertical e na horizontal
já desconfiava que era questão de pontos de vista
porque Ana sempre achava
tudo logo embaixo do seu nariz
quando olhava de volta
após trocar de lugar
será que Ana vai perceber?
o quanto faltava pra ser amor
o quanto ía sobrar
:um pouco quase muito

se Ana fosse durmir tarde
acordaria tarde porque queria
era assim que Ana com desculpas
controlava a solidão de quem não tem tempo pra se acostumar
nunca seria tarde demais pra Ana
pois procurar ajuda era perder a originalidade
era se acostumar através dos outros
Ana achava
que os outros costumavam tentar
porque já era tarde demais pra ainda ser quem eram
era tudo classificação por fase

mas Ana não
Ana tinha o abono da alvorada
como se fosse coisa nova
e Ana estivesse descobrindo
que o dia não nascia do nada
consumia o crepúsculo e entorpecia
dopada de frenesi pela curiosidade
por saber como se compreendia
ali - no mesmo lugar de antes
mas em outro planeta
Ana achava
que não podia fazer muito caso
senão os outros iriam saber
sua uberdade era só sua
e quando achasse toda a liberdade
que era sua e estava perdida
Ana se limitaria a não poder ter mais
e nem deixar de ter

o mundo delimitado
ao redor de Ana seria um mundo que faria sentido
se a solidão fosse o preço a pagar
Ana nunca saberia ao certo o que sacrificou
Ana achava
que a salvação era sobreviver sendo ela mesma
ou o que achasse que deveria ela mesma ser
o mundo que Ana defenestrara criara grades em sua própria janela

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2 Comentários:

Blogger Lunks disse...

Ana sabe o que quer mas não sabe como.

09:10  
Blogger Magaldi disse...

Enjoy, Sir Marano

23:28  

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