27.5.09

àquilo

- àquilo que não pode ser nomeado

Eu não sei o que aconteceu ao certo. Pessoas debandaram. Um monte de gente pirou. Eu mesmo já pirei uma vez. Nos recuperamos e mudamos. O que acontece eu não sei mesmo. Vem acontecendo. Éramos uma trupe. Na verdade várias, interconectadas através das amizades em comum. Não é errado falar que éramos uma população. Tínhamos uma cultura em comum, criada e cultivada por nós, reafirmávamos um o outro. Também frequentávamos os mesmos lugares, ouvíamos as mesmas bandas e líamos os mesmos livros, enfim, tínhamos as mesmas figurinhas.
E depois de tempos, aos poucos, sem se notar, tudo mudou, e não resta quase nada. Quer dizer, os resquícios são muitos e evidentes. O que se perdeu foi aquilo e hoje muito do que é é devido àquilo.
Eu falo por mim. Não soube o que queria da vida. Eu sofri da desilusão comum, mas levei muito a sério. Em seguida, deixei de querer alguma coisa específica. Perseguia um sentimento vago e segui filosofias relacionadas às coisas acontecerem naturalmente. Deixei levar. Parece que muita gente fez isso também, mas muita gente não. Alguns amigos largaram a faculdade, muitos mais trocaram de curso. Uma amiga passou a frequentar a igreja. Outra despertou um tipo de psicose. Eu mesmo tive pânico por um tempo. E muitos ainda estudam ou trabalham, ou os dois. Nós buscávamos um mundo que não existia, não onde e quando vivíamos. Muito menos sabíamos qual mundo queríamos e hoje ainda não sei nem acho que um dia saberei. É muito mais um sentimento. Não sei o que é preciso, na prática, pra estes sentimentos se tornarem um mundo: era essa a nossa inviabilidade.
É claro que nenhum de nós se arrepende porque, afinal de contas, devemos o que somos àquilo. E somos gratos pois adoramos o que somos. De qual outra forma mergulharíamos, com a respiração presa e de olhos fechados, fundo no que somos. De que outra maneira teríamos o mundo nú? e nós mesmos também despidos? Ali, como num microscópio, num divã, num telescópio, com nossa alma em cheque. Se auto analisando, sem conceitos, sem regras. Refletindo. E talvez o mais importante, estávamos acompanhados.
O que mudou está relacionado ao que nos excita. Os prazeres mudaram. Às vezes o prazer ainda é o mesmo. Mas sentimos de outra forma. Hoje eu sei muito melhor quem eu sou, mas não o que eu quero. E é esse conhecimento que me ajuda a traçar um rumo e seguir em frente. Meus objetivos são descritos pelo meu âmago. Assim eu tenho a certeza de estar no caminho certo, apesar de não acreditar que o caminho certo exista.

2 Comentários:

Blogger Tchello Melo disse...

Fala, bróder! Gostei muito do texto, sobretudo do seguinte trecho: "Meus objetivos são descritos pelo meu âmago. Assim eu tenho a certeza de estar no caminho certo, apesar de não acreditar que o caminho certo exista."

18:07  
Blogger Tchello Melo disse...

É sempre bom (re)encontrar gente que escreve bem! Axé mais!

18:07  

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