Já não importa
a falta
já não importa
a porta
já não importa
a comporta
que segura sua ira
o comportamento lamento lento
do apartamento morto
sem janelas
já não importa
a horta da hortelã
a escada de incêndio
do meu peito em chamas
já não importa
a infância fechada
a ferida aberta
que nunca cicatriza
a brase acesa do cigarro aceso
queimando eternamente
a minha carne
mas ainda assim...
já não importa
já não importa
a presença
a sentença
o que me importa
é esse não me importar constante
a estante
o instante
o segundo/ o primeiro
quero ser o último da sala
de jantar
o último da fila da repartição
o último a morder o pão
nosso de cada dia
e o primeiro a morder sua bochecha
chocha cheia de fumaça
verde pálido
mas mesmo assim
já não interessa
a pressa
não importa
o salário
o mendigo morto
a baba , afogado no mar de merda
já não importa a falta que o travesseiro me faz
já não me importa sua cara de bronze
seu cu fedorento
que peida escondido
a careta que eu faço no espelho
já não tem graça nenhuma
não importa o que eu quero
é estar presente
no dia e na hora
no minuto e no segundo
e no lugar que eu peidar em sua presença.
- Raul Seixas, 1968.
3 Comentários:
Quanta honra em ser o primeiro! rs
Tem poeminha novo, lá.
Bjs!
Elcio Domingues.
Marano: Troca o beijo (des meninas), pelo abraço, dos amigos! rs
Abraços, então!
Elcio Domingues.
Entra no site Caros Amigos.
Tem uma entrevista muito boa lá com o Seu Jorge.
Abração!
http://carosamigos.terra.com.br/do_site/sonosite/sonosite.asp
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