Aos domingos, iremos ao jardim. Entediados, em grupos familiares, Aos pares, Dando-nos ares De pessoas invulgares, Aos domingos iremos ao jardim. Diremos, nos encontros casuais Com outros clãs iguais, Banalidades rituais, Fundamentais. Autómatos afins, Misto de serafins Sociais E de standardizados mandarins, Teremos preconceitos e pruridos, Produtos recebidos Na herança De certos caracteres adquiridos. Falaremos do tempo, Do que foi, do que já houve... E sendo já então Por tradição E formação Antiburgueses - Solidamente antiburgueses -, Inquietos falaremos Da tormenta que passa E seus desvarios. Seremos aos domingos, no jardim, Reaccionários.
Me pede, aos sussurros, o amor - que é pra não correr o risco Aplica, em mim, o beijo ligeiro: a picada indolor Enquanto durar o tempo de um clandestino afago Antes de haver a solidão no tumulto das coisas em fatos Roubaremos a confissão de deus quanto ao que é Despontou o sentido esquadrinhado que vem primeiro É a vida: rapsódia efêmera, cantada em hiperurbanismos Que quando formos pegos cruzaremos no olhar o riso Da ciência que teremos de que somos ladinos de toda a graça do mundo: não haverá castigo digno de castigo, para nós indignos de mitos Haverá inveja de nossos amigos e de nossos pais não mais seremos filhos
Ana pintara o cabelo sem saber qual a cor da tinta e dera ao mundo novas delimitações Ana se expandia ao cumprir sua própria vontade não se sabe quem ensinara Ana mas achava aquilo que sê-la seria tirar nela aquilo que pertencia ao mundo seria moda e seria autenticidade Ana não sabia que era tudo a mesma coisa eram escolhas que não tinham a ver com valer a pena tinham que ver o novo - a rebeldade
Ana se desfazia do mundo aos poucos e era tão charmosa que parecia reconstruí-lo Ana nunca ligara realmente para a validade das coisas que se inventava pra Ana tudo parecia ser um pouco quase muito a fumaça do seu cigarro era a vida bonita a parte da vida que é admirável e só serve pra isso Ana achava que se houvesse um só caminho poderia esbarrar em tudo e seria talvez viver de verdade
Ana andava na vertical e na horizontal já desconfiava que era questão de pontos de vista porque Ana sempre achava tudo logo embaixo do seu nariz quando olhava de volta após trocar de lugar será que Ana vai perceber? o quanto faltava pra ser amor o quanto ía sobrar :um pouco quase muito
se Ana fosse durmir tarde acordaria tarde porque queria era assim que Ana com desculpas controlava a solidão de quem não tem tempo pra se acostumar nunca seria tarde demais pra Ana pois procurar ajuda era perder a originalidade era se acostumar através dos outros Ana achava que os outros costumavam tentar porque já era tarde demais pra ainda ser quem eram era tudo classificação por fase
mas Ana não Ana tinha o abono da alvorada como se fosse coisa nova e Ana estivesse descobrindo que o dia não nascia do nada consumia o crepúsculo e entorpecia dopada de frenesi pela curiosidade por saber como se compreendia ali - no mesmo lugar de antes mas em outro planeta Ana achava que não podia fazer muito caso senão os outros iriam saber sua uberdade era só sua e quando achasse toda a liberdade que era sua e estava perdida Ana se limitaria a não poder ter mais e nem deixar de ter
o mundo delimitado ao redor de Ana seria um mundo que faria sentido se a solidão fosse o preço a pagar Ana nunca saberia ao certo o que sacrificou Ana achava que a salvação era sobreviver sendo ela mesma ou o que achasse que deveria ela mesma ser o mundo que Ana defenestrara criara grades em sua própria janela