Já não importa a falta já não importa a porta já não importa a comporta que segura sua ira o comportamento lamento lento do apartamento morto sem janelas já não importa a horta da hortelã a escada de incêndio do meu peito em chamas já não importa a infância fechada a ferida aberta que nunca cicatriza a brase acesa do cigarro aceso queimando eternamente a minha carne mas ainda assim... já não importa já não importa a presença a sentença o que me importa é esse não me importar constante a estante o instante o segundo/ o primeiro quero ser o último da sala de jantar o último da fila da repartição o último a morder o pão nosso de cada dia e o primeiro a morder sua bochecha chocha cheia de fumaça verde pálido mas mesmo assim já não interessa a pressa não importa o salário o mendigo morto a baba , afogado no mar de merda já não importa a falta que o travesseiro me faz já não me importa sua cara de bronze seu cu fedorento que peida escondido a careta que eu faço no espelho já não tem graça nenhuma não importa o que eu quero é estar presente no dia e na hora no minuto e no segundo e no lugar que eu peidar em sua presença.
ah Ana! você poderia ser tão mais bonita e não vá se explicar poderia tanto ser mais feia Ana - é tudo que vale ser? quem melhor que você pra dizer que vive de apalpar degustar e mutar mais que isso: de se aproveitar oh Ana! assassina de deus antes das primeiras horas da manhã de alguma divisão dos dias que é o tempo? Ana achava é o quanto dura pra ser ser é duro já está enjoada? repeteco então espera até anoitecer
não demora muito no provador e madame Ana saía de guarda roupa novo Ana não dava rodeios achava aliás brega demais Ana entrava por uma porta e a saída seria sair por outra Ana achava que janelas serviriam - se não tivessem grades então se policiava pra não criticar para os outros ser os outros já era o erro suficiente para que toda falha se justificasse Ana é quem? se as águas fossem muito salgadas Ana boiaria - Ana era vaca
incansável Ana ou insistente? em tentar parecia até malícia o que tinha furado na língua aceitava parcialidades - personalidades era fácil sem ter que explicar a paz que tem uma felicidade nômade e a marca de quem quer Ana achava mas às vezes o bem querer é reconfortante quem é Ana?
umas horas outras horas teria a graça ter alguma coisa a ver com Ana senão a solidão seria em dobro não ter as palavras era por não ter a quem dizê-las mas no banho Ana cantava o mundo com louvor ou Ana não cantava ou Ana ensaiava e enjoava de repetir então tentava
'um belo vício um pular da janela carros passando rápido e aqueles engarrafados territórios disputados e a veemência de crente no grau de miopia da fé envelhecer desenlouquecer'
e só isso já era a liberdade atrevida exclusiva de Ana - que seria por até quando topasse nos pontos de farsa e reconhecesse Ana mesma no peão que não poderia mais sustentar
Ana descobria que fora descoberta por peregrinos agora iguais que por ser crime - calariam era muito primitivo e Ana teria de purificar-se como se andar descalça de novo fosse evoluir para o simples e bonito até que tudo mais numa evolução maior estiver emperequetado aos extremos da mentira
Ana não consiguia se segurar: quem era Ana? e ao invés de erguer a mão em dúvida levava a mão à face e tateava Ana tinha medo de olhar pro lado e ver espelhos e sem palavras não se reconhecer que faria então? que não fosse reproduzir seria a única coisa que lhe restara: se produzir
Ana iria precisar de um público iria precisar de uma bajulice e de toda experiência do saltimbanco para manobrar a estadia que tem uma sobrevivente do tempo em zona franca da vida Ana ao meio-dia saberia tudo para esquecer a meia-noite quem é, Ela?